Descrição da Experiência:

Experiência um: Eu estava estudando para ser pianista concertista. Estava me preparando para uma audição para a Série de Jovens Artistas com a Orquestra Sinfônica de Chicago. Além disso, eu estava me preparando para os exames finais do semestre. Consequentemente, eu estava sob uma grande quantidade de estresse e praticando piano oito a nove horas por dia. Na noite anterior a meus exames finais, eu me senti mal – dor de estômago e dor de cabeça. Me retirei tarde e tive problemas em adormecer devido à severidade da dor de cabeça. Tomei duas aspirinas e pouco tempo depois as vomitei. Tomei mais duas aspirinas e vomitei bile. Acordei minha colega de quarto e pedi a ela para chamar os paramédicos. Disse a ela que estava sentindo como se fosse morrer. Os paramédicos, que era um serviço novo em Chicago na época, aferiram minha pressão e minha temperatura e sugeriram que eu não fosse ao hospital. Eles me tiraram da cama e eu estava sem equilíbrio, com vertigem e náuseas severas. A dor intensificou e eles finalmente consentiram em me levar para o hospital. No hospital, o médico pensou que eu era vítima de overdose por drogas. Eles tiraram meu sangue e esperei quatro horas pelos resultados. Me deitei na maca do hospital na Sala de Emergência, com uma dor excruciante durante todo o tempo. Quando o resultado do rastreio de drogas deu negativo, um neurocirurgião pediátrico foi chamado para realizar punção lombar. O líquido espinhal estava com sangue.

Após realizar uma angiografia, eles determinaram que eu tinha um aneurisma cerebral que se rompeu. Isso geralmente é fatal. Eu fui colocada no cuidado neuro intensivo em coma induzido por drogas. Eu lutei contra o sono e iria acordar imediatamente quando as drogas fossem reduzidas. Eu rezei pedindo pela morte ou alívio ao longo dessa experiência.

O médico mais qualificado para a cirurgia estava de férias no México. A nevasca de 1978 o atingiu e ele ficou preso no México por aproximadamente dez dias. Portanto, minha condição piorou lentamente até que no décimo dia ouvi as enfermeiras constatando que minhas pupilas estavam fixas, mas não dilatadas. Eu entendi que pupilas fixas e dilatadas são uma definição para morte e disse à minha mãe como me enterrar quando ela me visitasse novamente.

Eu estive em cirurgia por dez a doze horas. Quando o médico estava me preparando para a cirurgia, ele me disse para fazer uma oração por mim mesma. Orei para que eu não pudesse sobreviver se eu me tornasse um vegetal, porque eu seria um fardo e não cumpriria a vontade de Deus. Rezei que, independentemente do que acontecesse, meu desejo final era ser perdoada por todos meus pecados e estar próxima de Deus e de Jesus.

Durante a cirurgia eu tive um derrame. Antes que eu voltasse da anestesia, o médico relatou a minha mãe que eu precisaria de pelo menos seis meses de fonoaudiologia e até um ano (ou mais) de fisioterapia.

Eu saí da anestesia quinze minutos após o término da cirurgia. O médico me perguntou se eu sabia seu nome. Eu só tinha o encontrado duas vezes, e durante extrema pressão física. Eu me lembrei. Ele me perguntou sobre o que eu estava pensando e eu contei minha experiência. A experiência é a seguinte:

Eu senti minha própria presença. Eu estava flutuando em uma nuvem – deitada. Me lembro que era estranho porque eu não conseguia sentir nenhum ponto de pressão no meu corpo. Havia um sentimento de completa paz, Felicidade e amor. Eu senti como se meu espírito estivesse voando. Eu me recordo de um sentimento interior de brilho e de luz, entretanto eu não me lembro dos meus arredores. Minha alma voou. Não pensei em ninguém. Eu só me lembro de querer estar nessa circunstância para sempre. Tinha uma perfeição máxima em simplesmente estar ali. Eu me lembro de pensar que eu estava no paraíso. De repente, eu estava acordada naquele hospital e meu primeiro movimento foi levar as mãos à cabeça, que estava envolta em bandagens de cerca de 15 centímetros de espessura. Em seguida, percebi que não estava sentindo dor. Eu havia descrito o relato acima como um sonho. O médico pareceu um pouco incrédulo, explicando que o paciente não pode sonhar enquanto está anestesiado. Além disso, enquanto eu estava conversando com o médico, eu não percebi que meu olho direito estava fechado e o olho esquerdo aberto. Ele me pediu para abrir ambos os olhos. A seu pedido, meu olho direito se abriu. Em seguida, ele testou minhas habilidades motoras – pernas e braços, mãos e pés. Dentro de vinte horas, eu estava andando facilmente pelos corredores. No meu quarto de hospital havia uma sacola de papel preenchida com meu cabelo raspado. Mais tarde descobri que foi guardado para a preparação do corpo para o agente funerário. Caramba! Isso realmente me assustou! Alguns dias depois, o médico silenciosamente veio até meu quarto às 5 da manhã e me disse que não havia outra maneira para explicar minha recuperação. Em suas palavras, “eu era um milagre”. Hoje eu acredito nisso.

Experiência dois: Quatro anos depois, dei luz à minha filha. Um mês depois, tive um estado de mal epilético. Um distúrbio epilético foi diagnosticado e medicamentos anticonvulsivos apropriados foram prescritos. O neurocirurgião pareceu pensar que a convulsão teria sido causada pelo estresse da maternidade. Pouco depois, eu também tive crises de completa paralisia do meu lado esquerdo. Minha filha chorava e eu não conseguia levantar do sofá. Durante um desses episódios, meu corpo flutuou para longe da minha sala de estar onde eu me deitei no sofá. Não foi uma convulsão induzida ou autoinduzida. Apenas aconteceu. Havia cordas (fios ou algo assim?) me conectando para cima. Novamente, havia um sentimento de paz, alegria, amor e contentamento. Eu olhei para trás por um seguindo, avistei minha filha e fui violentamente atirada de volta para o sofá onde eu pude ver meu corpo descansando. Eu literalmente me senti empurrada de volta para mim. Mais tarde, eu estava para descobrir que a convulsão/paralisia foi causada por um aneurisma gigante que tinha quatro anos de idade (uma complicação da primeira cirurgia). Normalmente, isso mataria alguém dentro de seis meses. Era do tamanho de uma maçã, ocupando quase todo o espaço do hemisfério direito da minha cavidade cerebral.

Experiência final: Depois da cirurgia no cérebro para esse aneurisma, eu tive uma experiência similar à primeira experiência quando eu estava saindo de um coma de três dias e com temperatura de quarenta e dois graus. Quando eu sai do coma, três ou quatro enfermeiros estavam trabalhando em mim. Eu deitei nua em um colchão de borracha sem lençol. Eles estavam banhando meu corpo com trapos embebidos em água gelada – apenas jogando-os em cima de mim. A experiência fora do corpo foi similar, mas não tão vívida e nem tão prolongada. Eu hesitei em contar para qualquer pessoa sobre essa experiência porque me lembrei da reação dos médicos sobre a primeira experiência. Não senti que alguém acreditaria em mim, então eu apenas aproveitei a memória.

Em relação a ambas experiências, o efeito posterior é um pouco decepcionante. Pode ser comparado a dizer adeus ao último convidado em uma festa, saboreando na memória o prazer da companhia e então olhar em volta e perceber que você tem trabalho a fazer para limpar a bagunça. Essa não é uma analogia perfeita, mas está perto. Eu estava ligeiramente depressiva e hipersensível por alguns meses após cada incidente. Não tenho certeza se devo atribuir esses sentimentos à depressão pós-operatória ou à privação espiritual. A irrealidade da perfeição dessas experiências, quando comparada a ser colocada de volta na vida real, é como uma explosão quente de uma fornalha, como se veria em uma usina siderúrgica.

Eu tenho usado diversas palavras e ainda assim é difícil comunicar as sensações e sentimentos, pois não há nada que se compare com isso na vida cotidiana. Consequentemente, a não ser que o leitor tenha tido uma experiência similar, ele não tem base de comparação.

Informação Anterior:

Gênero: Feminino

Data em que ocorreu a EQM: Fevereiro de 1978 e Janeiro de 1982

Na altura da sua experiência, houve algum acontecimento associado a uma ameaça de vida? Sim Doença Associadas à cirurgia Experiência um: Aneurisma Cerebral Rompido. Experiência dois: Aneurisma cerebral gigante (muito raro).

Elementos da EQM:

Como considera o conteúdo da sua experiência? Positiva

Existem quaisquer drogas ou medicamentos que poderiam ter afetado a experiência? Sim Sim Eu estava sobre cuidados médicos e não tenho certeza de todas as drogas que foram administradas. Eu sei que demerol, morfina e diazepam foram drogas dadas nos dez dias anteriores à cirurgia.

Foi a experiência fantasiosa em qualquer forma? Experiência um: Eu pensei que era um sonho até o médico me contar que não poderia ter sido. Experiência dois: Não. Experiência dois: Parecia real e percebi que meu corpo não estava funcionando totalmente.

Sentiu-se separado(a) do seu corpo? Sim Experiência um e dois – sim. Experiência final: não tenho certeza.

Em que altura durante a experiência estava no seu mais elevado nível de consciência e de alerta? Experiência um: sob anestesia. Experiência dois: Totalmente consciente – sem drogas ou álcool que alterem a mente. Experiência final: coma.

O tempo pareceu acelerar ou abrandar? Tudo pareceu acontecer de uma só vez; ou o tempo parou ou perdeu todo o significado

Sua audição diferia de qualquer forma da normal? Não Não Estava completamente silencioso, pelo que me lembro. Entretanto, eu tenho a sensação de que esqueci alguma coisa, especialmente da experiência um.

Pareceu-lhe que tinha consciência de coisas que se passavam noutro lado? Duas coisas. Primeiro, lembro-me de ouvir música clássica quando eu comecei a flutuar na “nuvem” na experiência um. Eu atribuí isso ao fato de que eu estava estudando e amo música clássica. Anos depois, descobri que meu médico ouve música clássica na sala de cirurgia. Que tal isso? Em segundo lugar, lembro-me de ouvir gritos de alegria depois que fui suturada na experiência um. Como se os médicos e os enfermeiros estivessem se parabenizando em voz alta – como o modo que os homens torcem quando estão assistindo futebol. Eu nunca perguntei aos médicos ou aos enfermeiros se isso ocorreu, mas minha mãe me contou que o médico disse a ela que os enfermeiros estavam em êxtase. Então, eu acho que isso é um “talvez”.

Passou por ou através de um túnel? Sim Experiência um: Sim. Eu estava certa de que eu estava em algum lugar no paraíso. Experiência dois: Acima da minha casa e me dirigindo para cima. Experiência final: Não tenho certeza – Me lembro de me sentir segura e protegida nessa experiência, mais do que nas outras. Como se estivesse sendo alimentada ou sendo embalada como um bebê. Mas não me recordo de uma pessoa ou um ser. Estranho, hein?

Encontrou ou teve consciência de algum ser falecido (ou vivo)? Sim Eu sei que haviam outros em minha volta, mas eu não me lembro de realmente olhar para eles. Havia um sentimento de estupefação, admiração, alegria, paz e outras coisas boas que eu estava apenas absorvendo.

Viu uma luz não terrena? Sim Em todos os casos, havia uma luz dentro de mim ou nas minhas proximidades.

Pareceu-lhe entrar num outro mundo não terreno? Um reino claramente místico ou não terreno um

Pareceu-lhe de repente que entendia tudo? Tudo acerca do universo

Cenas do seu futuro vieram até si? Cenas do futuro do mundo Diversas. 1) Desde a experiência um, eu tenho tido alguns sonhos que foram premonitórios. Eu tive um sonho em que eu estava em um acidente de carro. Eu vi a luz amarela piscando e o entorno do cruzamento. Quando eu me mudei da minha casa alguns anos atrás, eu vi o cruzamento. Consequentemente, mesmo quando o limite de velocidade é cinquenta e cinco (88km/h), eu sempre diminuo para quarenta e cinco (72km/h) quando estou passando por ali. Eu realmente tive um acidente naquele cruzamento, mas como eu estava indo mais devagar do que o limite de velocidade, eu vi surgir uma situação que poderia representar um possível acidente. Eu fui capaz de diminuir a velocidade antes do impacto. Provavelmente salvou minha vida.

2) Meu ex-marido era motorista de caminhão. Ele raramente me dizia quando estava voltando para casa de vários pontos de todo o país. Um dia, eu tive uma forte visão mental dele viajando em uma rodovia local. Eu não tinha razão para entrar no carro para verificar isso, a não ser curiosidade. Quando cheguei no cruzamento da rodovia com a rua principal perto da minha casa, onde ele sairia da rodovia, ele estava esperando em um sinal vermelho. Coisas assim aconteciam com tanta frequência que ele me disse que isso o estava “enlouquecendo” e que era realmente “assustador”. Ele disse que era como um “Big Brother” o vigiando.

3) Sonho de viajar dentro das minhas artérias até meu cérebro, apenas para descobrir algo impedindo meu movimento. Contei a meu primo sobre esse sonho que parecia tão real, em um evento familiar. Seis meses depois, o aneurisma gigante foi detectado. Aquele primo me disse depois: “Lembro daquele sonho que você me contou. Deve ser um inferno estar certa!”.

Existem diversos exemplos que eu tive como esses. Minha tia frequentemente também tem experiências como essas. Ela diz que é uma coisa herdada e que outras pessoas da família também vivenciam.

Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Não

Chegou a um limite ou ponto de não retorno oTeve escolha de ficar lá ou voltar para o seu corpo terreno? Cheguei a uma barreira que não me foi permitida atravessar; ou fui enviado(a) de volta contra a minha vontade Eu gostaria de poder ter atravessado.

Deus, Espiritual e Religião:

Qual era a sua religião antes da sua experiência? Impreciso

Qual é actualmente a sua religião? Conservador/Fundamentalista “Não frequento uma igreja regularmente. No entanto, estudo minha Bíblia e oro diariamente”.

Teve alguma alteração nos seus valores e crenças devido à sua experiência? Sim Fortalecimento da fé em Deus e em Seu Filho, Meu Salvador, Jesus Cristo.

No que respeita às nossas vidas Terrenas que não seja a Religião:

Desde a sua EQM as mudanças na sua vida têm sido: Permanece quase a mesma.

Após a sua experiência que mudanças de vida ocorreram na sua vida? Essas experiências aconteceram um mês depois do meu vigésimo aniversário até os 24 anos. Eu não tenho certeza o quanto das mudanças na minha vida são atribuíveis somente a essas experiências. Elas definitivamente impactaram minha vida.

As suas relações mudaram especificamente devido à sua experiência? Eu tenho um respeito mais forte pela vida e pela morte agora, e aceitação igual de ambas. O conhecimento da minha própria vulnerabilidade e dependência da graça de Deus. Um desejo de servir a Deus por meio da minha caminhada pessoal pela vida e da minha escolha profissional como educadora de crianças. Um senso de dever mais forte para fazer o que é agradável aos olhos de Deus e evitar o pecado, que é o que nos separa Dele.

Após a EQM:

A experiência foi difícil de expressar em palavras? Não

Após a sua experiência, tem algum dom psíquico, não-comum ou outro dom especial que não tinha antes da experiência? Sim Limitado antes da experiência um, mas floresceu depois.

Há alguma, ou várias partes da sua experiência que são especialmente importantes ou siginificativas para si? O melhor foi a sensação de luz dentro de mim e consequente paz e sentimento de amor dentro e fora. O pior foi e extrema dor física que sofri.

Alguma vez partilhou esta experiência com outros? Sim Eu compartilhei com uma pessoa na internet e ela me chamou de mentirosa. Minha família está aceitando.

Em algum momento da sua vida, algo alguma vez reproduziu qualquer parte da experiência? Não

Há mais alguma coisa que gostaria de acrescentar acerca da sua experiência? Eu raramente compartilho esses incidentes com alguém. Muitos são descrentes, então porque perder o meu tempo e o deles? Foi bastante catártico escrever isso. Obrigada.

Há mais alguma questão que possamos formular para o(a) ajudar a relatar a sua experiência? Não tenho certeza como essas experiências poderiam realmente ser descritas ou classificadas. Quase morte? Talvez.

Seu feedback seria muito apreciado. Quais são seus pensamentos/comentários? Algumas dessas coisas ainda são um pouco perturbadoras e definitivamente inesquecíveis. Isso é lembrado de 27 anos atrás e é tão vívido hoje quanto era antes!