EQM de Bonnie V
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Descrição da Experiência:
Quando eu estava no inicio dos meus vinte anos, eu tive algo parecido a um “susto
com cancro”. Tive células pré-cancerosas no colo cervical do meu útero, e
necessitei de um procedimento chamado “biópsia em cone”. Este é um procedimento
normal, não perigoso, mas após a sua realização, uma pessoa deve evitar
interferir com o local da cirurgia – nenhum banho, nenhum sexo e nada de
levantar pesos.
A proibição com a qual eu tinha mais dificuldade em evitar era “não levantar
pesos”. Eu tinha um bébé pequeno. Aqueciamos a casa com madeira. Sete dias após
a cirurgia, eu carregava o bébé numa anca e carregava a madeira na outra.
Fui para a cama nessa noite, e acordei numa pequena poça de sangue. Quando
me levantei, o fluxo de vermelho aumentou. Coloquei pensos higiénicos, mas eles
esgotavam-se num curto periodo de tempo. Coloquei fraldas de bébé, depois
toalhas e depois copos do armário, para apanhar o fluxo. Percebi que estava a
sangrar até à morte. Chamei uma ambulância, apontei uma lanterna para a estrada
rural e acordei um vizinho para cuidar da minha filha.
O pessoal da emergência chegou, ouviu a minha história, e saimos para uma
viagem de uma hora até ao hospital. No caminho, eu perdi cerca de metade do meu
sangue antes de perder a consciência.
A morrer ou morta? Não sei. Tudo o que sei, é que passei de terrivelmente
gelada até aos ossos e a sangrar numa ambulância, para o local mais brilhante e
caloroso imaginável. Não há descrições fáceis - a luz era como uma explosão de
amarelo dourado, acompanhada pelo mais requintado calor. Não é suficiente dizer
que me envolveu – “era” eu - um sol suave, um dia lânguido, um paraiso de
contentamento. Tudo era um. Foi o prazer mais sublime que eu jamais senti.
Mergulhei neste local; mesmo quando pensava ”Estou a morrer”.
Pensei na minha morte ao mesmo tempo que pensei na minha vida...mas eu não
estava a pensar. Tudo estava a acontecer ao mesmo tempo; o mergulhar sensual
nesta bela luz, a minha morte, a minha vida. Eu tinha medo pela minha filha.
Quando o enfermeiro agitou uma ampola de amonio debaixo do meu nariz, eu
voltei à ambulância, e dei-lhes o número de telefone dos meus pais. Chegámos ao
hospital, eles repararam a artéria cervical danificada, e tiraram-me do oxigénio.
O meu sangue foi tirado e testado. Os meus valores sanguineos eram baixos, por
isso deram-me duas unidades de plaquetas através de um transfusão sanguinea.
Penso nisto como a altura em que quase morri, ou a altura em que eu decidi
não morrer.
Sou fascinada pelas experiências quase-morte dos outros. Os disparos
aleatórios de um cérebro em perfusão ou o Céu? Histórias da luz, o túnel, e as
figuras a acenar. E embora eu vote a favor de “falta de sangue oxigenado no
cérebro” vs. “Céu”, eu questiono. Que coisa benevolente faz os nossos últimos
minutos serem assim: bem-vindos, luz, calor, e cheios de alegria?
Fez uso de medicamentos ou substâncias com potencial para afetar a
experiência Não
Foi difícil expressar em palavras o tipo de experiência? Sim
Porque as palavras são tão limitativas. Palavras como “maravilha” e “alegria” e
“amor” parecem inadequadas para explicar o que aconteceu.
Havia alguma ocorrência de risco de vida associada na época da
experiência? Sim
Perdi uma quantidade considerável de sangue, e perdi a consciência. Tanto os
meus niveis de hematócritos (percentagem de glóbulos vermelhos no sangue) como a
hemoglobina (contagem de proteina nos glóbulos vermelhos que transportam
oxigénio para o corpo) foram medidas após a reparação da rutura da artéria e
indicaram que eu tinha perdido aproximadamente metade do meu volume sanguineo.
Em qual momento, durante a experiência, você estava em seu maior nível de
consciência e vigilância? Eu estava inconsciente. Penso que
inconsciente por vários minutos, mas aparentemente foi menos do que um minuto.
A experiência assemelhou-se, de alguma forma, a um sonho? Foi surreal como os sonhos são. Eu estava preenchida de maravilha e
paz.
Vivenciou uma separação corpo-mente? Impreciso Não sentia o meu corpo, que estava muito frio
e a tremer. Estava cheia de um calor abençoado, mas não tinha consciência de que
este calor estava no meu corpo. Não tive a sensação de olhar para o meu corpo,
ou qualquer consciência de acontecimentos que tiveram lugar na ambulância. Eu
estava noutro lugar.
Que emoções sentiu durante a experiência?
Paz; calor; maravilha; alegria; preocupação pelo destino da minha filha, que era
muito nova na altura.
Ouviu sons ou ruídos incomuns?
Ouvi a minha própria voz dizer, “Estou a morrer”.
Entrou ou atravessou algum túnel ou compartimento fechado? Não
Você viu uma luz? Sim
Dourada, amarela e branca, como o sol. Era muito bonita.
Encontrou ou viu outros seres? Não
Você reviu acontecimentos passados de sua vida? Sim
Não era sequencial ou linear, de qualquer maneira. Era como estar consciente de
tudo ao mesmo tempo. Tenho dificuldade em descrever, ou perceber isto.
Durante a sua experiência, observou ou ouviu qualquer coisa associada a
pessoas ou eventos que foi posteriormente verificada? Não
Viu ou visitou belos ou especiais lugares, níveis ou dimensões? Sim Percebi o local onde fui como sendo outro local, mas tinha qualquer
paisagem.
Você sentiu uma alteração de espaço e tempo? Sim
Tudo estava a acontecer ao mesmo tempo. O tempo era imaterial. Pensei que estive
naquele local durante algum tempo, mas não estive “fora” por tanto tempo assim,
talvez apenas dez segundos.
Teve a sensação de possuir um conhecimento especial, de ordem e/ou
objetivo universal? Sim Sei que devo estar aquí. Não temo mais a morte.
Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Sim
A fronteira era mais uma tomada de decisão. Escolhi voltar para a minha vida
para poder ser uma mãe para a minha filha.
Tomou conhecimento de eventos futuros? Não
Participou ou teve consciência de uma decisão de retornar ao corpo? Sim Preocupação, conduzindo a certeza. Não me arrependi da minha escolha. Ainda
não me arrependo.
Passou a ter quaisquer dons psíquicos, para-normais ou outros especiais a
seguir à experiência que não tinha antes? Não
Suas atitudes e crenças foram alteradas após a experiência? Sim
Eu estava mais comprometida em ter uma vida feliz, não ficar desapontada se as
coisas não fossem perfeitas, levar as coisas de modo mais fácil, ser mais
simpática para as outras pessoas, prestar mais atenção, apreciar a beleza à
minha volta. Esta experiência contribuiu para a minha decisão de ir para a
escola de enfermagem, e tem-me ajudado quando trabalho com pacientes em estado
terminal. Ainda não frequento a igreja, mas considero-me uma pessoa espiritual,
e acredito em Deus.
Você compartilhou esta experiência com outras pessoas? Sim
Não até recentemente, quando a escrevi num diário online que tenho há um ano.
Não sei realmente porque é que nunca quis falar disto com ninguém. Pensei nisso
frequentemente. Talvez eu estivesse à espera que a minha filha crescesse.
Que emoções vivenciou após a sua experiência? Imediatamente após, eu estava terrivelmente fria, e com medo (na
altura) de ter de voltar (para a luz) e não poder ver novamente a minha filha. O
condutor da ambulância ligou aos meus pais para ir buscar a minha filha aos
vizinhos, no caso de eu morrer.Nos
dias seguintes, senti-me vazia, e cansada (provavelmente um efeito posterior da
perda de sangue). Ao longo do tempo, esqueci-me dos sentimentos negativos e
lembrei-me mais da alegria. Lembrar-me-ei da alegria para sempre.
O que foi o melhor e o pior em sua experiência? A melhor parte foi a paz, o calor amigável e a clareza de decidir
voltar. A pior parte foi voltar ao meu corpo, pois eu estava em choque severo e
muito fria.
Há algo mais que desejaria acrescentar referente à experiência? O choque é mau.
A sua vida mudou especificamente por conta da sua experiência? Sim
(nenhuma explicação dada)
Após a experiência, surgiram outros eventos em sua vida ou fez uso de
medicamentos ou substâncias que reproduziram alguma parte de sua experiência? Não
Existem questões poderíamos pedir para ajudá-lo a acomunicara sua experiência? Impreciso
As palavras falham relamente em descrever o que me aconteceu. Olho para o que
escrevi e sinto que falhei em dar um verdadeiro vislumbre da experiência.
Existem questões poderíamos pedir para ajudá-lo a acomunicara sua experiência? Obrigada por providenciarem um
lugar onde possa ler acerca das experiências de outros e partilhar a minha
própria história.