EQM de G Ryan
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Descrição da Experiência:
Sou um estudante de comunicação na universidade de
Londres. Isto aconteceu quando eu estava a filmar uma curta metragem para o meu
trabalho de curso.
Estávamos a usar uma igreja sem uso e estávamos
bastante excitados, pois tinha demorado dez semanas para termos autorização. A
igreja estava no meio de uma remodelação, e embora não houvesse nada nela que a
fizesse parecer uma igreja, havia uma quantidade apreciável de lixo e muitos
materiais de construção no centro. Embora fitas de perigo cobrissem a porta que
levava à escada, nós decidimos usar a varanda, que corria ao longo de toda a
igreja de ambos os lados, tinha cerca de três metros de largura e sete de altura.
Assim que começámos a filmar, tivemos de parar algumas
vezes porque a varanda estava a ranger e quando a nossa operadora de câmara, Jo,
voltou para o local da câmara, a cerca de cinco metros do cenário para mudar a
cassete. Eu próprio, o Shane e o Charlie (todos, incluindo a Jo éramos amigos
chegados desde o liceu) encostámo-nos à varanda, que cedeu e nós caímos no chão.
Abri os meus olhos e lembro-me de olhar para cima e
pensar, "Wow, foi uma longa queda, e eu nem sequer me magoei". A minha cabeça
estava apoiada em algo e isso dava-me uma boa visão de tudo, uma grande
proporção da varanda estava agora ao nivel do chão. Não pensei muito no Charlie
nem no Shane, pois pensei que eles não tinham caído. Senti algo a escorrer pelos
meus lados o que me fez olhar para baixo, espetado através do meu peito estava
um pedaço de metal – um daqueles que ficam no meio do betão armado. Não entrei
em pânico; apenas fiquei lá deitado, sem me mover, a sentir o que era sangue a
escorrer pelos meus lados, saturando a minha t-shirt à medida que corria.
Apanhei algum movimento pelo canto dos meus olhos.
Consegui ver o Shane a levantar-se, as suas costas estavam profundamente
laceradas, e ele coxeava enquanto ele lutava para chegar à parede. Então percebi
que podia ouvir gritos, mas eram abafados como se alguém estivesse a gritar
contra uma almofada, olhei para cima em direcção dos gritos e vi a Jo no cimo da
varanda a olhar para baixo, a sua face num misto de gritos e lágrimas. Isto
fez-me sorrir, embora eu não soubesse porquê eu estava a sorrir. Eu queria que
ela parasse mas não conseguia falar, nem sequer tentei.
Olhei novamente para o pedaço de metal no meu peito, e
ocorreu-me pela primeira vez que eu iria morrer, mas não conseguia entender
porquê, não tinha a certeza de querer morrer já, não que eu tivesse escolha. Não
me assustou, a perspectiva de morrer, nunca me assustou, mas sempre pensei que
quando eventualmente chegasse a hora eu estaria assustado, mas não o estava.
Novamente, houve movimento pelo canto do meu olho. O Shane estava a ajoelhar-se
no meio da confusão de coisas e gritava furiosamente. Ele continuou a gritar
para algo ou para alguém, "Charlie! Acorda", repetia ele constantemente.
Então de repente percebi, eu deveria estar a sentir
dor, e não estava. Nem sequer me tinha movido, não que o tivesse tentado. De
repente senti calor por todo o lado, calor, e pela primeira vez, senti dor na
forma de mil punhos a atingirem-me por todo o corpo, mas eu não me importava. Eu
estava focado na sensação de calor que agora descia pelo meu corpo, através dos
meus braços e pernas, e para cima até ao meu pescoço, como o sol na pele, mas
radiava desde o interior. Um anel negro, escuro, estava agora lentamente e
restringir a minha visão. Estava a ficar cada vez maior, a caminhar para o meio
da minha vista. "Acorda!" gritou o Shane novamente. Perdendo a esperança, ele
olhou para mim e percebeu a minha situação. Eu fiz um leve sorriso, novamente,
não sei porquê. Ele olhou para cima em direcção à Jo, e gritou algumas
instruções, mas eu não ouvi, não conseguia. Ele então começou a coxear até mim,
ainda a chorar furiosamente, balbuciando, "Greg!" à medida que se aproximava,
mas antes que eu pudesse fazer algo, o circulo de escuridão à volta dos meus
olhos fechou-se completamente.
Era como se eu pestanejasse. Os meus olhos estavam
repentinamente abertos, mas a minha posição tinha mudado, eu estava agora muito
alto, olhei à minha volta e descobri que estava na varanda. Eu não estava a voar,
ou a flutuar, eu apenas estava lá à borda a olhar para baixo para mim próprio,
observando o Shane a remover o pedaço de metal do meu peito, ele estava a gritar,
mas estava silencioso, não havia qualquer barulho. Olhei para a direita e vi a
Jo, ela também chorava muito. Ela estava a pôr uma bateria no seu telemóvel, mas
ela tremia muito para o poder fazer correctamente.
Nunca me senti tão frio. De me sentir tão quente
quando estava deitado no meio da confusão, agora sentia-me frio. Mas não era uma
sensação desconfortável, parecia ser apenas uma sensação que aceitei sem
questionar. Eu estava a usar exactamente as mesmas roupas que antes, até as
nódoas de sangue ainda lá estavam. A minha visão não era humana. Era fragmentada,
embora eu conseguisse ver perfeitamente, senão melhor, não era a visão que eu
tinha anteriormente, e tudo brilhava de uma forma prateada.
Olhei novamente para baixo para mim próprio. O Shane
estava a tentar em vão reanimar-me, mas não parecia estar a resultar. Embora eu
já não tivesse o pedaço de metal o meu pulmão estava obviamente perfurado, mas o
Shane não desistia. A Jo tinha agora inserido com sucesso a bateria no seu
telemóvel, digitou um número e colocou-o ao ouvido. Lembro-me de olhar para os
seus lábios. Eles tremiam enquanto ela falava e não consegui decifrar o que ela
estava a dizer. Então algo chamou a minha atenção. Algo ou alguém estava a
deslocar-se ao longo da varanda mesmo por trás da Jo. Era o Charlie.
Rapidamente olhei para baixo para o seu corpo. Ele
estava claramente morto. A sua cabeça estava precariamente deslocada dos seus
ombros. Olhei de volta para o Charlie. Ele parecia branco, mas tinha lágrimas
nos seus olhos. Ele sentou-se e pendurou as suas pernas sobre a borda partida da
varanda mesmo do outro lado da frenética Jo. Ele olhou para baixo para ele
próprio. "Charlie?" perguntei, não sabendo se ele me conseguia ouvir. Ele olhou
para cima rapidamente. A sua face enrugou-se. "Estou assustado Greg". Eu olhei
para ele e então novamente, para o seu corpo sem vida. Não havia nada que alguém
pudesse fazer para o ajudar agora. Ele estava morto – ponto final. Ele também
estava a olhar para ele próprio. "Eu sei", disse eu, enquanto sentia uma lágrima
a escorrer-me pela face.
As portas abriram-se com estrondo. Uma equipa de três
paramédicos passou a correr pela porta – dois homens e uma mulher. Observámos a
mulher a verificar o Charlie enquanto os outros corriam até mim. Enquanto um
abria a sua mala, ele olhou de volta para a mulher que verificava o Charlie.
Todos os olhos estavam agora sobre ela, até os da Jo. Ela abanou gentilmente a
sua cabeça. O Charlie estava morto. Ele olhou novamente para mim. Se o Charlie
estava morto, porque é que eu estava a olhar agora para o seus olhos? "Tens de
ir Greg", disse ele. Abateu-se sobre mim a sensação que eu tinha de tentar
voltar para o meu corpo. "E tu?" perguntei. "Greg, estou morto. Viste a mulher;
não há nada que eu possa fazer". "Sim podes", implorei, "Tens de tentar
Charlie". Ele sorriu-me gentilmente e assentiu. Levantou-se, como eu fiz, e
caminhámos um até ao outro. Olhei para os seus olhos durante um momento – eles
estavam cheios de medo e não havia nada que eu pudesse fazer acerca disso. Ele
abraçou-me, e o Charlie nunca dava abraços a homens. Ele segurou-me muito
apertadamente, e então separou-se a chorar, ainda mais. "Adeus Greg", disse ele.
"Adeus Charlie" disse eu. Olhei de volta para mim próprio no chão, e saltei.
Acordei... Vivo.
Informação Anterior:
Sexo: Masculino
Data em que ocorreu a EQM: 16/04/03
Na altura da sua experiência, houve algum acontecimento associado a uma ameaça de vida? Sim Acidente Caí de uma varanda.
Elementos da EQM:
Como considera o conteúdo da sua experiência? Mista
Existem quaisquer drogas ou medicamentos que poderiam ter afetado a experiência? Não
Foi a experiência fantasiosa em qualquer forma? Não de todo.
Sentiu-se separado(a) do seu corpo? Sim Ver narrativa principal.
Em que altura durante a experiência estava no seu mais elevado nível de consciência e de alerta? Total.
O tempo pareceu acelerar ou abrandar? Não
Sua audição diferia de qualquer forma da normal? Apenas ouvi a voz do Charlie durante toda a experiência.
Pareceu-lhe que tinha consciência de coisas que se passavam noutro lado? O Charlie estava morto, e quando contei à Jo que sabia que ela tinha tido dificuldade com o seu telemóvel, e ela confirmou.
Passou por ou através de um túnel? Não
Encontrou ou teve consciência de algum ser falecido (ou vivo)? Sim Ver narrativa principal.
Viu uma luz não terrena? Não
Pareceu-lhe entrar num outro mundo não terreno? Não
Que emoções sentiu durante a experiência? Ver narrativa principal.
Pareceu-lhe que de repente entendia tudo Não
Cenas do seu futuro vieram até vocé? Não
Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Não
Chegou a um limite ou ponto de não retorno ou teve escolha de ficar lá ou voltar para o seu corpo terreno? Cheguei a uma barreira que não me foi permitida atravessar; ou fui enviado(a) de volta contra a minha vontade O Charlie persuadiu-me. Maioritariamente senti medo.
Deus, Espiritual e Religião:
Qual era a sua religião antes da sua experiência? Impreciso NENHUMA
Qual é atualmente a sua religião? Moderada Cristã
Teve alguma alteração nos seus valores e crenças devido à sua experiência? Sim Sou agora cristão e vou à igreja (à mesma) todos os domingos.
No que se diz respeito às nossas vidas Terrenas que não sejam a Religião:
Desde a sua EQM as mudanças na sua vida têm sido: Ficou mais ou menos na mesma.
As suas relações mudaram especificamente devido à sua experiência? De todas as formas imagináveis.
Após a EQM:
A experiência foi difícil de expressar em palavras? Sim A emoção que senti – nunca senti algo assim antes.
Após a sua experiência, tem algum dom psíquico, não-comum ou outro dom especial que não tinha antes da experiência? Sim Tenho sido capaz de revisitar aquele dia com extraordinária precisão, é por isso que consigo fazer uma tão boa descrição. Também tenho a capacidade de saber quando algo vai acontecer, embora isso não aconteça por minha escolha! É pela força.
Há alguma, ou várias partes da sua experiência que são especialmente importantes ou significativas para você? Dizer adeus ao Charlie foi o pior, e a espantosa sensação que tive quando estava a olhar para mim próprio desde a varanda foi o melhor.
Alguma vez compartilhou esta experiência com outros? Sim Apenas com a Jo e com o Shane, eles ficaram espantados e de inicio não acreditavam em mim.
Em algum momento da sua vida, algo alguma vez reproduziu qualquer parte da experiência? Sim Foram-me prescritos anti-depressivos que começaram a desligar toda esta coisa psiquica.
As questões formuladas e a informação que nos deu de forma precisa e compreensiva descrevem a sua experiência? Impreciso