Eu fui catapultada para o ar a uma altura de cerca de 9 metros, e aterrei a cerca de 15 metros da moto. Eu não estava a usar capacete e aterrei de cabeça. No acidente, fracturei o meu crânio e perdi todos os sinais vitais. Muito do que aconteceu daqui para a frente eu não me recordo claramente. O que me foi dito é que uma das duas motos que ia connosco também colidiu com a carrinha. A moto que não embateu na carrinha tinha dois dos meus amigos. Eles correram pela estrada abaixo e pararam o trânsito. Se eles não estivessem lá, nós provavelmente teriamos sido atropelados pelo próximo carro que contornasse a esquina.

O primeiro parou e ajudou-nos. Nele estavam dois policias que não estavam de serviço. Ironicamente, um deles já tinha sido paramédico. Ela ressuscitou-me e salvou-me a vida. Ela bateu no meu peito com tanta força que fracturou uma das minhas costelas. Fomos todos transportados para o hospital. Após ter sido ressuscitada, eu acordei e comecei a falar. Mesmo no hospital eu estive acordada durante a maior parte do tempo. Embora, não me lembre de ter recuperado a consciência, até horas depois de estar no hospital.

O que me lembro são flashes de luzes coloridas, provavelmente daquelas dos carros de policia e de ambulâncias. Lembro-me de ver uma rapariga ser posta numa maca, através de uma perspectiva aérea. Provavelmente era eu a ver-me a mim própria, pois eu era a única mulher no acidente. Estranhamente, também me lembro vagamente do meu pescoço ser ajustado quando estava a ser posta na maca, o que demorou cerca de três segundos.

A primeira vez que me lembro de acordar no hospital, perguntei a uma enfermeira porque é que eu lá estava. Ela explicou-me que eu tinha acabado de ter um acidente e de repente eu pensei, “Oh yeah!” e lembrei-me de todos os detalhes do acidente que me lembro agora. O que torna isto tão estranho para mim é que eu sei (pelo que ouvi de outros que estavam lá), que eu tinha estado acordada no local do acidente e também durante uma hora enquanto estavam a fazer-me exames no hospital. Mas, quando recuperei a consciência, senti como se tivesse acabado de acordar de um sono que tinha sido tão profundo e confortável, que foi estranho e assustador.

Fez uso de medicamentos ou substâncias com potencial para afetar a experiência Sim Quando recuperei a consciência, senti-me como se tivesse acordado do sono mais profundo e pacifico que se imagine. Não tenho a certeza se este sentimento intenso de relaxamento foi devido à morfina que me foi administrada no hospital.

Foi difícil expressar em palavras o tipo de experiência? Sim O medo intenso de fazer tremer os ossos, e o incrivel e ainda assim estranho sono do qual eu acordei, e o as imagens fragmentadas de que me lembro.

Em qual momento, durante a experiência, você estava em seu maior nível de consciência e vigilância? Passei de clinicamente morta e inconsciente, para alternar entre a consciência e inconsciência, até ficar totalmente consciente. Acho que nunca estive realmente alerta. Tinha uma séria concussão, assim não me senti alerta durante meses.

A experiência assemelhou-se, de alguma forma, a um sonho? Sim, pensei que toda a experiência tinha sido um sonho até a enfermeira me contar porque é que eu estava no hospital.

Vivenciou uma separação corpo-mente? Sim Eu estava acordada mas não me lembro de estar acordada. Durante o tempo que as pessoas me disseram que eu estava acordada e a falar, eu lembro-me de outras coisas completamente diferentes.

Que emoções sentiu durante a experiência? Aterrorizada, cansada, calma, confusa, relaxada, preocupada.

Ouviu sons ou ruídos incomuns? Estavam a ser ditas coisas à minha volta, e de algum modo eu tinha consciência que havia um ruido de fundo, no entanto eu não o ouvia. Era como se lá estivesse mas era distante e tão abafado na altura que eu não o ouvia bem.

Entrou ou atravessou algum túnel ou compartimento fechado? Não

Você viu uma luz? Sim Vi flashes de luz brilhante tanto de cor branca como de outras cores. Agora, quando vejo muitos flashes de luzes de ambulâncias, carros de bombeiros e policia, fico com um sentimento de instabilidade.

Encontrou ou viu outros seres? Não

Você reviu acontecimentos passados de sua vida? Não

Durante a sua experiência, observou ou ouviu qualquer coisa associada a pessoas ou eventos que foi posteriormente verificada? Não

Viu ou visitou belos ou especiais lugares, níveis ou dimensões? Não

Você sentiu uma alteração de espaço e tempo? Sim Quando eu estava a experienciar o que eu penso ser uma experiência fora do corpo, perdi noção do tempo. Perdi a totalidade do tempo desde estar no local do acidente a entrar na ambulância, até acordar (horas depois de ter chegado ao hospital).

Teve a sensação de possuir um conhecimento especial, de ordem e/ou objetivo universal? Sim Senti como se houvesse uma presença comigo, mantendo-me calma e assegurando-me que as coisas iriam ficar bem. Mas, eu nunca vi nada nem ninguém e nunca falei com nada ou ninguém. Apenas não me sentia só. É dificil de descrever. Não senti que lá estivesse algo ou alguém, apenas senti que não estava isolada nem que passei tudo sozinha.

Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Não

Tomou conhecimento de eventos futuros? Não

Participou ou teve consciência de uma decisão de retornar ao corpo? Não

Passou a ter quaisquer dons psíquicos, para-normais ou outros especiais a seguir à experiência que não tinha antes? Não

Suas atitudes e crenças foram alteradas após a experiência? Sim A minha atitude acerca da vida é significativamente diferente. Estou arrebatadoramente consciente da minha própria mortalidade. Questiono durante todo o tempo, questões como: “Porque estamos aqui na terra? Há algo mais?”. Acredito mais em espiritos e pergunto se alguma vez aprenderei como canalizar a minha energia para comunicar com eles. Após a minha experiência compreendi que anteriormente à experiência tinha perdido muita motivação. Imagino que as probabilidades estavam contra eu conseguir sobreviver a essa noite, no entanto consegui. Deve haver uma razão para Deus me querer aqui. Decidi refocar-me e vou frequentar uma escola de direito em setembro de 2003.

Você compartilhou esta experiência com outras pessoas? Sim Não partilhei a minha experiência com muitas pessoas. Sinto que a maior parte das vezes se eu o fizesse, as pessoas não iriam entender. Não é que elas não queiram acreditar em mim. É que elas, para começar, são cépticas acerca do assunto. As únicas pessoas com quem eu acho que gostaria de falar, seriam provavelmente pessoas que se pudessem identificar com a experiência.

Que emoções vivenciou após a sua experiência? Imenso medo da morte, confusão, raiva, sentimento de sorte, gratidão e solidão.

O que foi o melhor e o pior em sua experiência? A pior parte desta experiência foi o medo extremo da morte que senti depois. De inicio, desejei ter morrido no acidente porque senti que nunca saberia e não era assim tão mau. Pensei que tinha acabado, agora tenho de viver novamente. Imaginei morrer de todas as maneiras possiveis. Foi muito perturbador observar as pessoas a morrerem nos filmes, porque eu imaginava morrer daquela forma que elas morriam nos filmes.

A melhor coisa que resultou deste acidente é a minha própria auto-consciência. Estou refocada e motivada. Vejo a vida pelas coisas que nunca tinha visto antes. Este acidente também despoletou a minha imaginação e curiosidade.

Há algo mais que desejaria acrescentar referente à experiência? (sem resposta)

A sua vida mudou especificamente por conta da sua experiência? Sim Vejo o mundo de forma diferente. Estou grata por tudo o que tenho.

Após a experiência, surgiram outros eventos em sua vida ou fez uso de medicamentos ou substâncias que reproduziram alguma parte de sua experiência? Sim Ver certos filmes onde as pessoas morrem ou ficam feridas de uma forma similar, pode reactivar toda a experiência para mim. Também tenho sonhos relacionados com o acidente. As luzes dos veiculos de emergência podem activar emoções do acidente.

Existem outras questões poderíamos pedir para ajudá-lo a comunicar a sua experiência? Sim (sem explicação dada)

Existem outras questões poderíamos fazer para ajudá-lo a comunicar a sua experiência? Questiono, por vezes, se os outros experienciam esse sono profundo que era tão confortável e tão assustador.