EQM Jaime G
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Descrição da Experiência:
Sentia-me doente. Nem sequer podia engolir um xarope para a garganta. Tinha 40 graus de febre. Sempre tinha tido problemas com as amígdalas. Apesar disso, pensei que me bastaria uma injeção de penicilina para me mandarem embora. Contudo, depois de fazer a análise ao sangue, a médica de serviço disse que era de opinião que devia esperar para ser observado. Tive dores toda a noite. No dia seguinte, depois de ter tomado antibiótico, não tinha diminuído o inchaço e a médica decidiu que devia ser feita uma traqueotomia, operação cirúrgica para melhorar a passagem do ar pela traqueia. Fiquei preocupado. Tinha o estranho pressentimento de que ia morrer. Estava com medo. Disseram-me que tudo ia correr bem.
Lembro-me de que, durante as quatro semanas seguintes, o meu relógio marcava sempre 14:14, o que era esquisito. Aconteceu várias vezes quando estava a trabalhar e, quando via as horas, querem saber? Eram sempre duas e catorze minutos da tarde!...
Regressemos à história…
Do que me lembro é de estar a ser anestesiado, e de estar ainda deitado de costas, com a sensação de estar deitado no vazio, na mais completa e muito assustadora escuridão. Lembro-me de ter colocado as mãos à frente do rosto, sem as ter visto, bem como o corpo, embora soubesse que ele estava ali. A seguir, comecei a ouvir um sussurro, como se estivesse debaixo de água, esse género de sensação. Comecei a pensar porque estaria tão escuro. Nada mais me interessava, e não me lembro do que aconteceu antes disso. Nada de operação cirúrgica, a escuridão era tudo.
Depois, durante o espesso negrume, tive a sensação de estar num túnel, ao longo do qual se viam portas fechadas. Todo o túnel parecia ser uma cave feita de pedra, não muito dura, quase macia – era essa a minha impressão. Fiquei com um pouco de medo, perguntando-me o que estava a acontecer. Parecia-me que já ali estava há cerca de uma hora, ali mesmo. Avistei, entretanto, um ponto de luz à minha frente, à distância, do tamanho aproximado duma borrachita na cabeça de um lápis.
Comecei a ir lentamente em direção a esse ponto, sendo puxado sem ser eu que me movia, flutuando na vertical. Senti que, se quisesse, poderia entrar nas pequenas portas que havia ao longo do túnel e também senti nesse momento que se fizesse isso, deixaria de poder regressar. Continuava apenas atento à luzinha pequena.
Num certo instante lembrei-me da minha avó, já falecida. Fiquei de imediato iluminado, tendo dito repetidamente: “Não estás morta, nem eu morri”. Ela respondeu: “Não morri e tu também não”.
A minha avó tinha falecido três anos antes mas, naquele momento, não conseguia lembrar-me disso.
Nesse momento estava tão viva e tão bem (tinha falecido de demência agravada). Disse-me que me sentasse junto dela para tomar café, como sempre fazíamos em sua casa.
Estava ali a mesa, as cadeiras e ela tinha o aspeto dos seus trinta anos. Com um vestido arroxeado, como um muito bonito que tinha com flores. Com a diferença que as flores deste brilhavam com um amarelo fluorescente.
Comecei a tomar o café, tendo reparado que não estava quente nem tinha sabor. Estava tépido, mas libertava vapor como se estivesse bem quente, estando frio.
Sabia como quando se está doente, sem paladar. Apesar disso, disse-lhe que a família pensa nela todos os dias, tendo-me respondido que sabia bem isso, que sabia que lhe tínhamos muito amor e que ela também nos amava. Nessa altura reparei que o teto tinha a forma de uma cúpula e que do lado esquerdo era como se fosse uma cortina, donde o meu avô materno me espreitava.
Também ali estava outra senhora forte, baixa, penteada com uma cauda de cavalo comprida. Queria dizer qualquer coisa, quando a minha avó me disse: “Tens que regressar, não podes ficar aqui. O tempo de ficares ainda não chegou.” Senti-me pessimamente e comecei a chorar, tendo respondido; “Querida Avó, queria tanto ficar!...” Sentia-me tão maravilhosamente que não queria sair dali. Lembro-me de lhe ter pedido em Espanhol, “Por favor, quero muito ficar contigo. Não quero sair daqui nunca mais”. Respondeu-me: “Não te preocupes, quando chegar o tempo próprio, para cá virás!” e acrescentou: “Diz lá a todos que os amo muito e que estou sempre a pensar neles!...”
Nesta altura preparei-me para dizer que queria lá ficar, mas ouvi um ruido forte, senti uma forte martelada de fogo no peito e regressei como amordaçado.
Estava de regresso à sala de reanimação hospitalar, todo entubado. Sentia-me pessimamente. Estava lá o meu pai e o resto da família. Não sei o que aconteceu a seguir, mas lembro-me de lhes ter dito que queria papel e lápis para escrever um recado: “Vi a Avó…”
Depois de ter desmaiado outra vez, consegui mesmo escrever o meu recado no papel, que o meu Pai ainda guarda algures.
Estava a sentir-me pior. Tiveram que me levar de helicóptero de regresso a Modesto (Califórnia). Estive na unidade de cuidados intensivos durante duas semanas. Só via sombras nevoentas e perdia a consciência a toda a hora durante essa quinzena, até aos últimos dois dias.
Também me recordo, quando fui levado pelos ares a Modesto, de ouvir um uma música suave na sala de cuidados intensivos. Ouvia um coro que tinha tudo para ser considerado angélico.
Não conseguia falar e, para comunicar alguma coisa, tinha que ser por escrito.
Perguntei a uma enfermeira de onde vinha aquela música. Disse-me que na unidade de cuidados intensivos não era permitida música, ouvir rádios, etc.
Também lhe disse que via outras pessoas, que sentia como se fossem meus familiares. Respondeu-me que não tinha vindo ninguém ver-me, mas que vinham pessoas de Los Banos para me visitar, coisa muito estranha, sem dúvida.
Em geral, estava feliz por ter regressado à vida, pelo menos a funcionar como tal. Disseram-me que poderia não voltar a poder falar, nem ter o perfeito funcionamento do cérebro, por ter estado inconsciente quase cinco minutos durante os esforços de reanimação. Esse é o resumo do que me sucedeu, mas no relatório médico que foi feito, há provas de que dei sinais ativos às 14:14 desse dia. A mesma hora que via semanas antes, o que parece estranhíssimo!...
Perguntei às enfermeiras a este respeito e elas disseram-me que essa minha impressão devia ter sido causada pelos medicamentos que tomei e ao choque sofrido. Não sei… Tudo pelo que passei me pareceu real. Geralmente, quando as pessoas são operadas, acordam já no quarto de reanimação e não veem parentes já falecidos. Aquilo que descrevi, entretanto, foi o que se passou comigo.
Tive outra experiência na unidade de cuidados intensivos em Modesto, quando me foram extrair uns dentes que me estavam a causar problemas. Levaram-me para a cirurgia, para me entubarem. Lembro-me de lhes ter dito que não estava inconsciente. Mas reparei que o médico parece não ter ouvido nada enquanto eu estava a gritar. Vi-o chegar para fazer a extração, o que reparei ter acontecido comigo olhando de cima, do teto da sala. Fiquei entusiasmado por conseguir atravessar as paredes. Quando me dispunha a ir à sala de espera, acordei já no quarto de recuperação. Julgo que aquilo por que passei, foi uma Experiência Fora do Corpo. Depois comecei a ver sombras escuras – negras! A enfermeira disse-me que tinha sido por causa dos medicamentos…
Informação Anterior:
Género: Мasculino
Data em que ocorreu a EQM: December 3 2001
No momento da sua experiência, houve algum acontecimento associado a uma ameaça de vida?
Sim, devido à cirurgia. Enquanto a equipa cirúrgica tentava aplicar-me um tubo de traqueotomia, atingiram um abcesso que tinha junto dos molares. Isso e o facto de o tubo estar entupido fez-me ficar azul. De acordo com eles, perdi o conhecimento por cerca de 4 ou 5 minutos enquanto faziam esforços, por duas vezes julgo eu, para retomar os sentidos.
Elementos da EQM:
A experiência, ao longo do tempo, tem sido:
Variada.
Sentiu-se separado(a) do seu corpo?
Não
Como compara o seu mais elevado nível de consciência e alerta durante a experiência, e esses mesmos níveis enquanto acordado? São semelhantes?
Não tinha a noção da passagem do tempo. Só podia pensar no que estava a passar-se de facto.
Em que momento, durante a experiência, esteve no seu mais elevado nível de consciência e de alerta?
Naquela vez em que, sentado com a minha avó à mesa do café, falávamos telepaticamente, sem ver os lábios dela a mexerem-se, apesar de ela estar a sorrir.
Os seus pensamentos estavam acelerados?
Incrivelmente rápidos
O tempo pareceu acelerar ou abrandar?
O tempo estava completamente paralisado. Senti-me como se ali tivesse estado umas oito horas, embora tivessem sido apenas quatro ou cinco minutos.
Os seus sentidos estavam mais despertos que o normal?
Não.
Compare sua visão durante a experiência à visão normal dos dias anteriores.
Tudo parecia mais claro. Todas as cores me pareciam mais vivas e todos os detalhes mais nítidos.
Compare sua audição durante a experiência à audição habitual antes da experiência.
Primeiro, era como se estivesse debaixo de água, com um zumbido de fundo. Depois, quando estava junto da minha Avó ouvia apenas aquilo que ela me dizia pelo pensamento, isto é, tudo claro e bem nítido.
Tinha consciência de coisas que se passavam noutro lado?
Tive toda a consciência dos factos que, de resto, foram confirmados pela experiência.
Passou por um túnel?
Sim, era um túnel de negro compacto, subterrâneo, húmido e com irregularidades. Parecia uma gruta subterrânea, ou qualquer coisa parecida.
Encontrou ou percebeu algum ser falecido (ou vivo)? Viu, ou sentiu-se rodeado por uma luz brilhante?
Sim, por uma luz mística ou de outro mundo.
Viu uma luz não terrena?
Depois de chegar à escuridão do túnel ví uma pequena luz à distância aproximada de 120 metros. Primeiro pequena, tornou-se cada vez maior a medida que fui atraído para ela. Mas isso durou apenas segundos. Tive a sensação que era ali que estava a minha avó, e foi ali que cheguei.
Pareceu-lhe entrar num outro mundo não terreno?
Não
Que emoções sentiu durante a experiência?
Ao princípio metia medo por causa da escuridão. Depois, quando me encontrei na sala com a minha avó naquela luz, senti-me maravilhosamente. Não tinha dores, só Felicidade. A minha tristeza foi grande quanto soube que não iria ficar ali.
Teve uma sensação agradável ou de paz?
Sensação incrível de paz muito agradável.
Teve uma sensação de alegria?
Alegria incrível
Qual a compreensão que tinha ali de todas as coisas? Tinha a impressão de que sabia Tudo acerca do universo.
Cenas do seu passado vieram até você? O meu passado desfilou rapidamente diante de mim, fora do meu controle. Mas fui envolvido pelo sentimento pleno da liberdade.
Cenas do futuro vieram até você? Sim, a plena imagem do futuro.
A visão de uma estrutura física com limites? Sim, se está a falar do quarto em que estava a minha avó. Vi ali o meu avô e outras pessoas que pareciam ser meus parentes, que iam passando detrás de uma cortina transparente. Imagens simultâneas, que davam a ideia que havia noutros espaços como a cúpula onde ela vivia. Senti que se ali ficasse, poderia ter conhecido todos esses espaços.
Chegou a uma fronteira ou ponto de não retorno?
Fui enviado de volta contra a minha vontade.
Deus, Espiritualidade e Religião:
Qual era a sua religião antes da experiência? Cristianismo teórico.
As suas práticas religiosas mudaram desde a sua experiência?
Sim. Não adotei as práticas sociais da religião ocidental, embora respeite aqueles que o fazem. Também não acompanho a teoria do céu com um deus e o inferno com um diabo. Acho que há campos de energia de sinais opostos. Acredito nisso. Parece estranho? Realmente não acho que Moisés e os santos irão estar à nossa espera.
Sou agora uma melhor pessoa do que antes, que detestava a vida em certa medida. Sinto-me feliz por estar vivo e feliz por saber que a morte como fim, não existe.
Qual é atualmente a sua ideia de religião?
Moderada, e mais espiritualizada que a sua versão religiosa.
Houve alguma alteração nos seus valores e crenças devido à sua experiência?
Sim, não estou preso a crenças e ideologias ocidentais, embora respeite a ideologia das pessoas nessas áreas. Não aceito o dualismo dogmático do céu e do inferno, com um deus e um diabo. Concebo campos de energia diferentes, nos quais acredito. Realmente não acho que Moisés e os santos irão estar à nossa espera.
Sou agora uma melhor pessoa do que antes, que detestava a vida em certa medida. Sinto-me feliz por estar vivo e muito confiante de que a morte como fim, não existe.
Pareceu-lhe encontrar um ser místico, uma presença, ou ouvir uma voz não identificável? Encontrei um ser definido, ou uma voz claramente mística e de natureza espiritual.
Você viu algum espírito? Vi, sim.
A respeito da vida depois da morte:
Durante a sua experiência, obteve algum conhecimento ou informação especial ? Não (Aqui acho que deveria ser SIM, o que está confirmado mais abaixo…)
As suas relações mudaram especificamente devido à sua experiência? Sim. Estou de facto mais cheio de amor, e amo a vida mais do que nunca.
Após a EQM:
A experiência era difícil de expressar em palavras? Não
Após a sua experiência, tem algum dom psíquico, ou visões que não tinha antes da experiência?
Com dúvidas e sem certezas, vejo muitas sombras. Senti coisas durante as quatro semanas seguintes. Deixei de ter medo da morte e julgo ter-me tornado mais intuitivo. Sou mais sensível porque, quando entro em certos lugares, sinto um peso, tenho a certeza que há ali espíritos. Parece impossível, mas até comprei um gravador digital que uso para tomar nota desses casos.
Há alguma, ou várias partes da sua experiência que tenham sido especialmente importantes ou significativas para você?
Ter visto a minha avó foi muito importante, sabendo que ela não está morta e que nós também não morreremos. Foi como se soubesse que as coisas são como sempre julguei, mas foi um choque ter confirmado. Não parei de gritar: “Não estou morto, não estamos mortos !!!”..... A minha avó até teve de me acalmar!...
Alguma vez descreveu esta experiência a outras pessoas?
Sim, de imediato. Aceitaram especialmente a carta que escrevi quando estava na unidade de cuidados intensivos. Não me lembro de a ter escrito e especialmente de a ter escrito em Espanhol. Habitualmente não escrevo em Espanhol, e o meu pai disse que aquilo que escrevi parece ter sido escrito pela minha avó!...
Antes da sua experiência tinha algum conhecimento acerca de experiências quase-morte (EQM)?
Sim, tinha ouvido falar de EQM’s, mas era sobre um túnel de luz branca com temas de há alguns anos atrás, nos quais nunca pensei ou acreditei a sério até que aconteceram comigo!... Agora, fiquei definitivamente convencido.
O que acreditava acerca da veracidade da sua experiência logo após (dias ou semanas) de ela ter acontecido?
A experiência foi de facto real. Primeiro pensei que tinha de ser um sonho, mas depois de ter pensado seriamente durante vários dias e de me ter analisado interiormente, vi que tinha sido perfeitamente real. Tentei recusá-la primeiro como se tivesse sido um sonho, mas foi de tal forma real que não pude recusá-la.
O que você acredita hoje sobre a veracidade da sua experiência?
A experiência foi absolutamente real.
Em algum momento da sua vida, algo reproduziu qualquer parte da experiência?
Não, mas se souber de qualquer coisa que eu possa tomar para que possa viver de novo o que vivi, diga-me já imediatamente!... (risos…)