Isto implica em andar em uma esteira ergométrica, em vários níveis de dificuldade, enquanto se está conectado a um eletrocardiógrafo. Durante a primeira fase do teste, senti uma terrível dor em meu peito. Era como se alguém houvesse colocado nele um torno mecânico gigante. Lembro-me do médico a perguntar se eu estava bem enquanto eu começava a cair, mas não me lembro de ter caído na esteira ou no chão.  

Depois disso, as minhas lembranças são fragmentos e pedaços de imagens e sentimentos. Lembro-me de estar passando por um túnel ou uma passagem tubular com um alto ruído de velocidade ao fundo. Não recordo de entrar ou sair do tubo. 

A seguir, lembro-me de estar sendo puxado em direção a uma esplêndida luz de imensurável brilho. Enquanto movia-me em direção à luz, a minha primeira esposa interceptou-me. Ela estava feliz por ver-me, mas preocupada pois não era ainda o momento de eu estar lá. Eu sabia que ela estava feliz e satisfeita em sua forma presente. Não me lembro de ela ter-me dito nada daquilo. Eu apenas o sabia. 

Era como se tivéssemos feito um giro à direita. Depois, recordo estar sentado em uma pastagem de um verde cálido com um brilhante céu azul servindo de cenário. Não recordo com clareza se havia grama, flores ou outras plantas por lá. Aí conversei com alguém. Falamos durante horas sobre o porquê de estarmos todos aqui e dos meus planos para esta vida. Naquele momento, eu sabia tudo, o completo significado da vida e a sua razão de ser.  

Não posso lembrar-me de nada exceto a última frase. Está claro para mim que não era para lembrar. Até hoje, ainda sonho com a conversa nos mínimos detalhes. Quando acordo, eu não posso mais lembrar-me dela. Eu não sei com quem falei ou mesmo o que falei. Posso dizer-lhe que senti um amor incondicional e uma ilimitada sabedoria. 

Como disse, o único que lembro daquela conversa é uma frase. Lembro-me dela tão claramente como se houvesse acabado de ouvi-la. Uma grave voz masculina disse: “ Então, está decidido, você irá voltar.” 

Ao fim daquela frase, a equipe médica estava fazendo a desfibrilação pela segunda vez. Eu fui arremessado de volta ao meu corpo e senti o choque com grande violência. Foi como se alguém houvesse detonado uma pequena bomba em meu peito. Meus olhos saltaram das órbitas e eu vi a parte de trás da cabeça do homem que fêz isso. Eu o ouvi dizer “cardioversão” *, que é o termo médico para restabelecer o ritmo cardíaco. Era o segundo choque. O médico que conduziu o teste de estresse disse-me que aplicaram-me o choque duas vezes. Da primeira vez, não houve a conversão do ritmo cardíaco. 

Meus olhos fecharam-se novamente. A vez seguinte em que abriram, eu estava na unidade cardíaca. 

Fez uso de medicamentos ou substâncias com potencial para afetar a experiência? Não sei. Administraram-me várias drogas durante os esforços de ressuscitação. Não sei quais e quanto.

Foi difícil expressar a experiência em palavras? Sim. Não partilhamos uma estrutura comum de referência. Trata-se, em grande parte, de impressões e de comunicação não-verbal. 

Na época da experiência, houve uma ocorrência associada a risco de vida? Sim. Uma parada cardiorrespiratória. 

Qual era o seu nível de consciência e alerta durante a experiência?  As lembranças que guardo são bem delineadas e claras. 

A experiência assemelhou-se, de alguma forma, a um sonho? Apenas quanto a não poder lembrar-me de tudo. Aquilo que realmente lembro é nítido e não tem as características de um sonho. 

Vivenciou uma separação corpo-mente? Não estou certo. 

 Descreva a sua aparência ou forma quando separada do seu corpo:  Durante os eventos que recordo, em instante algum senti-me impelido a olhar ou prestar atenção a qualquer parte do meu corpo. 

Que emoções sentiu durante a experiência?  Uma incrível sensação de desvelo e amor absolutos, cuja descrição mais próxima seria o do amor incondicional de uma mãe por seu bebê. 

Ouviu sons ou ruídos incomuns? Um ruído branco** no túnel similar a um squelch aberto em um rádio ou ao som da arrebentação do oceano sem a pulsação das ondas. 

Entrou ou atravessou algum túnel ou compartimento fechado? Sim. Descreva: Lembro-me de estar viajando a alta velocidade através de uma escura passagem tubular. 

Você viu uma luz? Sim. Uma indescritível bela luz de espectro completo, muito brilhante. Mesmo sendo tão brilhante não era desagradável ou dolorosa ao olhar. 

Encontrou ou viu outros seres? Sim. Encontrei a minha primeira esposa falecida. Eu conversei com uma entidade superior sobre a razão de estarmos aqui e qual é a nossa missão na vida. Não me lembro da aparência dessa entidade. Suponho que terei conhecido essa entidade antes do meu ataque cardíaco mas não estou seguro. 

Você reviu acontecimentos passados de sua vida? Não.  

Durante a sua experiência, observou ou ouviu qualquer coisa associada a pessoas ou eventos que foi posteriormente verificada? Não estou certo. Apenas a visão do médico administrando-me a segunda desfibrilação.  

Viu ou visitou belos ou especiais lugares, níveis ou dimensões? Sim. A região com a luz e o “campo verde” conforme acima mencionadas. 

Você sentiu uma alteração de espaço e tempo? Sim.

Eu passei muitas horas conversando no campo verde. Os esforços de ressuscitação demoraram menos do que cinco minutos. 

Teve a sensação de possuir um conhecimento especial, de ordem e/ou objetivo universal? Sim. Aprendi que não estamos aqui por acaso, há razões planejadas. Sei que há muito mais além na vida do que qualquer um de nós possa conceber. Contudo, talvez, nós não possamos compreender isso enquanto estamos em nossa forma atual. 

Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Não.  

Tomou conhecimento de eventos futuros? Não estou certo. Descreva: Em algumas raras ocasiões, vivencio fortes sentimentos quanto ao caminho a seguir em minha vida. Toda vez que isso acontece, sigo esse sentimento e o resultado tem sido muito bom. 

Participou ou teve consciência de uma decisão de retornar ao corpo? Sim. Estou certo de que a escolha de ficar ou partir foi minha. 

Passou a ter quaisquer dons psíquicos, para-normais ou outros especiais a seguir à experiência que não tinha antes? Não estou seguro.

Suas atitudes e crenças foram alteradas após a experiência? Sim. A experiência terminou com a dor e a angústia que vivi ao perder a minha primeira esposa. Fiz as pazes com os poderes que governam esta vida. 

Tenho uma vida muito mais equilibrada. Eu costumava crer que a conquista de bem-estar financeiro e de status eram o significado único da vida. Desde a minha EQM, descobri que não desejava mais seguir esse caminho. Meu médico disse-me para “mudar de trabalho ou morrer”, somente desta vez disse-me que eu podia estar morto. Posto isso de lado, voltei ao trabalho, principalmente por que sentia que deveria continuar a fazer “muito dinheiro”. Não funcionou. Não por razões de saúde mas porque simplesmente deixou de ser importante para mim. Ao final de outubro, eu estava considerando seriamente demitir-me. 

Em novembro, alguma falha nos andaimes, durante um trabalho em uma instalação militar, provocou-me uma queda que poderia ter-me matado. Além de uma série de arranhões e espasmos do diafragma, eu saí ileso do acidente. Enquanto estava lá caído, tentando recuperar a minha respiração, ouvi a voz do meu médico como se alguém tivesse ligado um gravador junto ao meu ouvido: “Mudar de trabalho ou morrer”. Eu nunca mais voltei àquele trabalho. 

A minha estrutura de crenças alterou-se dramaticamente. Encontrei provas concretas de que muito do que havia sido enfiado em minha cabeça através do púlpito simplesmente não era verdade. Os padres, ministros, pastores e outros homens e mulheres de mesma vestimenta não tem a menor ideia do que seja a vida ou a morte.  

Existe um plano-mestre e todos, individual ou coletivamente, temos participação nele. Estou seguro que cada parte desse plano é tão importante quanto o seguinte. A crença de que posição e status torna-o mais importante do que a senhora que recebe o seu dinheiro na loja de conveniência, nada mais é do que um disparate narcisista. Eu sei, eu costumava também pensar assim. 

Você compartilhou esta experiência com outras pessoas? Sim. A minha esposa acredita nessa experiência. Entretanto, a minha experiência contradiz nitidamente as suas crenças religiosas e discutir isto deixa-a desconfortável.  

Fora da minha família, a maioria dos poucos que sabem que eu tive uma experiência, tratam o assunto como se eu tivesse comido o meu aparato químico ao almoço. Em vista disso, eu não abordo o assunto frequentemente.  

Uma exceção é a repórter com quem trabalhei em uma ocasião. Ela viveu uma EQM durante a sua adolescência e nós conversamos longamente sobre nossas experiências. A outra exceção, para grande surpresa, é o meu médico. 

Que emoções vivenciou após a sua experiência? Uma combinação de alívio e confusão. Boa parte das minhas crenças foi simplesmente demolida. 

O que foi o melhor e o pior em sua experiência? A melhor parte foi o encontro com a minha primeira esposa e ter resolvido aqueles sentimentos. A pior parte é não ser capaz de lembrar a conversa.

A sua vida mudou especificamente por conta da sua experiência? Sim. Eu tenho agora um estilo de vida mais calmo. Desfruto mais tempo com a minha família. 

Após a experiência, surgiram outros eventos em sua vida ou fez uso de medicamentos ou substâncias que reproduziram alguma parte de sua experiência? Não.  

As perguntas formuladas e as informações que forneceu descrevem a sua experiência de forma precisa e abrangente ? Sim.  

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*   [NT: cardioversão - choque elétrico aplicado sobre o coração]

** [NT: ruído branco - um tipo de ruído produzido pela combinação simultânea de sons de todas as frequências]