EQM de Traci
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Descrição da Experiência:

Lembro-me de caminhar até ao carro, mas não entrar nele... estávamos a cerca de 10 minutos de distância de onde ocorreu o acidente... um flash de escuridão, e rapidamente havia uma luz branca, um som (hum) como se fosse vento – muito mais rapidamente do que eu pudesse imaginar por ter lido outros relatos de um túnel, mas isto não o descreve. Então, escuridão total, mas não no sentido de uma escuridão que impede os olhos de verem, porque cá não precisamos de olhos. Escuridão é apenas uma palavra para descrever o vazio de possibilidade, falta de limitações – totalidade completa onde não há necessidade de ver. Percebo que tudo está bem, e isto é mais real e belo e sensivel e amoroso do que o mundo material que eu pensava anteriormente ser a vida. Sei que não faz qualquer diferença se eu volte ou não ao meu corpo – foi aqui que eu me distingui a mim própria em pensamento da totalidade natural* . Havia um corpo e eu voltei brevemente a minha atenção conscientemente para o barulho e para a actividade que estava a decorrer abaixo onde havia pessoas a correrem precipitadamente às voltas em estados de perturbação extremos – não senti qualquer apego – até aos meus amigos no carro – ocorreu-me que eu nunca sequer pensei na extensão dos seus ferimentos. Sei que há outra opção – ir apenas (não voltar). Não há julgamentos ou sentido de propósito e eu não tenho a certeza porque decidi voltar – era como se eu já entendesse a um nível que não requer qualquer diálogo, por isso eu não necessitei de passar pelo processo de obter uma explicação. Isto foi na altura em que me estavam a colocar na ambulância. Então lentamente, eu juntei-me ao meu corpo novamente e umas poucas horas depois estava novamente a interagir com ele.

* quando me foco na questão de voltar ou não eu separei-me do que posso agora descrever como uma essência do tipo do céu – isto quando comecei a pensar numa forma de linguagem – comecei a especificar, limitar o foco ao que pode se entendido como um contexto “normal” – foi anos mais tarde, após muita daquela maluquice que eu acalmei o suficiente para começar a ver o sentido de tudo aquilo.

Fez uso de medicamentos ou substâncias com potencial para afetar a experiência: Não

Foi difícil expressar a experiência em palavras? Sim as palavras não conseguem descrever a experiência, e foi apenas muitos anos mais tarde que a minha mente ficou preparada para “designar” o que aconteceu – as palavras que eu usava para descrever aquilo continuaram as mesmas, mas a clareza aprofundou-se quando eu tive um contexto e uma linguagem que partilhei com outros – mas mesmo assim não transmite na totalidade...

Na época da experiência, houve uma ocorrência associada a risco de vida? Sim Fui atirada do banco de trás através do vidro da frente de um VW carocha, batendo de frente num carro grande a cerca de 65 Km/h. Estive inconsciente por várias horas.

Qual era o seu nível de consciência e alerta durante a experiência Fisicamente eu estava “inconsciente” e não estava muito preocupada com o que estava a acontecer com o meu corpo. Estava consciente dos paramédicos, e mais tarde do pessoal do hospital, familia e amigos, mas eles não eram assim tão importantes. Estava muito clara acerca das coisas – o oposto da confusão. Estava desinibida pelas fisicalidades do que possamos chamar de processos duros, e possuía um completo entendimento.

A experiência assemelhou-se, de alguma forma, a um sonho? Era como um sonho em que não é limitado por teorias físicas que são normalmente aceites. Era muito mais claro que um sonho – ou um tempo “acordado”.

Vivenciou uma separação corpo-mente? Sim

Descreva a sua aparência ou forma quando separada do seu corpo: Estava consciente de estar completamente independente de forma e conseguia “ver” o meu corpo e o mundo físico quando queria, estava a cerca de 3 m acima do chão.

Que emoções sentiu durante a experiência Calma, nem felicidade nem tristeza, aceitação, paz, amor sem apego.

Ouviu sons ou ruídos incomuns? Percebi sons e barulhos, mas não os ouvia – o único barulho que me pareceu ter ouvido no sentido que normalmente ouço, foi o “swoosh” quando entrei e saí.

Entrou ou atravessou algum túnel ou compartimento fechado? Incerto Mais como escapar através de um túnel – como vindo acima após um mergulho profundo na água, mas muito, muito rápido e algo similar quando voltei, mas mais gradual e do tipo funil – como flutuar para baixo sem barreiras.

Você viu uma luz? Sim Branco associado com a coisa do túnel. Preto associado comigo própria sem forma – embora todas as cores (arco-iris) estivessem aqui se chamadas, sendo um azul profundo associado com a unidade.

Encontrou ou viu outros seres? Não Não havia formas ou separações, mas eu não estava sozinha porque eu era uma com tudo. Não senti a presença de familiares que tivessem morrido ou Deus, mas eu não estava separada deles, eu sabia que se eu precisasse de algo – conceito, forma, comunicação, poderia ser experienciada por mim – mas não havia necessidade.

Você reviu acontecimentos passados de sua vida? Não Parecia que talvez não tivesse havido consequências suficientes enquanto eu ainda era uma criança – embora nunca tenha aceitado isso naquela altura. Compreendi o que posso agora chamar de karma – os efeitos do nosso corpo, discurso e mente são o que experienciamos, mas não houve uma análise formal. Não me surpreenderia de todo se houvesse uma próxima vez.

Durante a sua experiência, observou ou ouviu qualquer coisa associada a pessoas ou eventos que foi posteriormente verificada? Não

Viu ou visitou belos ou especiais lugares, níveis ou dimensões? Sim Sim – mas, a explicação acima é tão clara quanto eu consigo descrever actualmente

Você sentiu uma alteração de espaço e tempo? Sim não alterada – mas vim a compreendê-los mais. O tempo é relativo, o espaço é infinito e mais complexo do que as nossas mentes possam imaginar.

Teve a sensação de possuir um conhecimento especial, de ordem e/ou objetivo universal? Sim era como se eu fizesse parte de um grande computador e ele tivesse ficheiros que pudessem explicar tudo, e tudo o que eu tivesse de fazer fosse apenas olhar, mas sabendo que eu não necessitava disso, a ordem universal é amor e paz. As nossas experiências actuais estão dependentes das nossas reacções às experiências anteriores, e as nossas reacções futuras dependem das nossas manifestações actuais, mas envolvendo tudo isto está o amor/energia que é a base para a vida. Isto não é prejudicado nem favorecido por nada de material. Não consigo ver outro propósito que não o de amar e tentar amenizar o sofrimento de outros – e eu tenho passado muitos, muitos anos tentando trabalhar nisto – questionando porque é que eu não olhei mais à minha volta enquanto eu estive lá, em vez de tentar descobrir agora que não está tão claro para mim.

Alcançou um limite ou uma estrutura física limitante? Sim Tinha de escolher voltar ou continuar e estava limitada por essa escolha.

Tomou conhecimento de eventos futuros? Incerto Não tomei, mas senti que facilmente poderia ter sabido de tudo o que eu quisesse. Numa ocasião, anterior à experiência e por poucas vezes após a mesma, tive experiências de sonhos que eram diferentes de sonhos normais e relacionados com o futuro ou com futuros eventos traumáticos.

Participou ou teve consciência de uma decisão de retornar ao corpo Sim Como acima – não emocionalmente e ainda estou a explorar o que exactamente me levou a escolher voltar.

Passou a ter quaisquer dons psíquicos, para-normais ou outros especiais a seguir à experiência que não tinha antes? Incerto Sou muito mais sensitiva e mudei para sempre. Fui e ainda sou nada de especial.

Suas atitudes e crenças foram alteradas após a experiência? Sim tem sido um processo longo e lento para perceber – e passei muitos anos a tentar manter-me muito ocupada para realmente processar isto – mas o conhecimento central esteve sempre comigo – que amar e ajudar os outros é tudo o que interessa. Agora que eu não tento mais separar a vida da experiência, e tenho algo em que me focar, tenho conseguido trabalhar no sentido de ter uma vida autêntica que reconhece e aceita a realidade do que experienciei, deixou-me certamente o privilégio de aceitar as coisas que fazem sentido neste contexto e SABER que elas estão correctas.

A experiência afetou os seus relacionamentos? Vida cotidiana? Práticas religiosas, etc.? Escolhas profissionais? Desisti de administrar programas de serviço social quando percebi que a minha pressa não era tão útil como eu aquilo que eu podia ser capaz de fazer se tivesse um melhor entendimento da natureza da realidade. Assim, tenho estudado por mim própria, já há 5 anos, e praticado o budismo tibetano no último ano e meio.

Sou muito menos perigosa do que costumava ser.

Você compartilhou esta experiência com outras pessoas? Sim Com o meu marido, algumas pessoas de um grupo de discussão de livros budistas, e um Lama. As suas reacções foram de apoio e abertura. Beneficiei imenso de colocar esta experiência em palavras e isto abriu um enorme entendimento numa ocasião (acerca do momento da separação da minha consciência de volta ao “meu” em oposição ao “tudo”), mas estou apenas a começar a abrir-me.

Que emoções vivenciou após a sua experiência? Penso que bloqueava e focava-me no vidro na minha cabeça e nos outros ferimentos dos meus amigos e então... foi anos mais tarde e agora percebo o quão abençoada fui por tudo isto - que rara dádiva foi

O que foi o melhor e o pior em sua experiência? Não há pior parte – bem, doeu e foi desagradável quando voltei, mas a paz que senti valeu por mais que tudo isso.

A sua vida mudou especificamente por conta da sua experiência Sim Não tenho medo, e embora esteja sempre a esquecer o que é importante – normalmente não continuo a fazer algo que não seja útil assim que percebo que o estou a fazer.

Após a experiência, surgiram outros eventos em sua vida ou fez uso de medicamentos ou substâncias que reproduziram alguma parte de sua experiência? Sim partes ou algo semelhante foi experienciado muitas vezes em muitas circunstâncias, mas nada tão livre.

As perguntas formuladas e as informações que forneceu descrevem a sua experiência de forma precisa e abrangente ? Sim

Há outras questões que possamos formular para ajudá-lo/a a comunicar melhor a sua experiência? Estou ainda a entender isto e sei que vou continuar a explorar esta experiência – se soubesse o que perguntar, perguntaria, mas aprecio o vosso trabalho e ajudarei de qualquer forma que eu possa.